domingo, 23 de novembro de 2008

Vício

Atropelava-lhe em ruas desertas. Conspirava no sono e o emboscava de dia. Tornara-se insidiosamente premente, urgente, iminente.
No início - como todo o início - fora brinquedo fugaz, a última inconseqüência. Quando apercebera-se, já devia a Drummond, a Leminski, à Lispector, a Azevedo... Insolúvel, passara a assaltar léxicos e compêndios. Sucumbiria aos becos da obscura inspiração. Corrompera-se.
Alguém ainda o vira, por aí, exaurido e trôpego, catando verbos nas sarjetas. Ou nos degraus, mendigando - dizem - alguma rima:

Oh vaso, vaso sanitário!
Em ti planto meu último denário
Te condeno sacrossanto dromedário
A vazar pelo fio do escapulário

Jarbas Siebiger

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