sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Recado Público

quando redefinir teus poros
catalogar fracassos
tentativas frustradas
vômitos vazios
por falta de fome

e enfim assumir
o beijo seco e parco
pela gula que tinha-me

procura-me nos classificados
de domingo!
é lá que publico
erroneamente, meus olhares
desprezados

encontre artigos por meu nome:
Diva Etérea Estéril Doidivanas e tua.

Larissa Marques

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Feito Louca

“Se te pareço noturna e imperfeita, olha-me de novo. Porque essa noite olhei-me a mim, como se tu me olhasses (...)” (Hilda Hilst)


Se passo a imagem de mulher já feita
Iludo a quem me vê por esse prisma,
Pois basta olhar de novo e tal sofisma
Já se desfaz por si... tão imperfeita!

Criança, velha e triste, que não sabe
Ou aprendeu da vida coisa pouca.
Poeta, supre em versos, feito louca
Aquilo que não tem ou não lhe cabe.

Os medos que carrego já os disse,
De ficar só, de nem ser tua amiga,
Da morte e do viver sem argumentos.

Mas o pior que tenho é o da sandice,
Da mágoa que me vem qual praga antiga
E faz que eu seja só ressentimentos.

Sara Magmah


Narciso

Michelângelo Merisi da Caravaggio

Correspondência

Você sangra a voz e a rasura da caneta
sem afogar a beleza do amor.

Tem assinatura aguda de gume aceso,
uma navalha de fio maravilhado
que guarda o meio-fio das idéias
esculpidas em três golpes rápidos:

Começo,
meio,
fim.

Tríade una de volume e raridade
daquele tipo que não há quem encontre;
do tipo que só nasce quando "bem disposta"
apenas na descoberta linhagem dos presentes,
no alinhavar dos gestos e versos mais rentes,
justos nesse teu modo de se escrever,
parecendo que decalca e me desenha
sobre o assombro do papel de seda!

(...)


Numa terra onde a regra é ter,
parecer ou ser meio "LADO B",
você tem bem é um avesso diverso,
um bruto diamante disfarçado
a fincar brasa no carvão do verbo.

Visão que vale também
Até mesmo para quem
ainda, não te sabe ler.

Por isso teus escritos e tua poesia
são mantra, fio e silêncio de cura
que desarmam medos de escuridão;
aguçam a lâmina sensível dentro da pele
e põem o punhal da verdade a conversar,
a se divertir e dar dicas,
brincando de gato-mia no escuro
da essência pressentida que te lê.

tudo com o afeto desse punhal de luas
afiando estrelas na nascente do peito.

Bom é que, uma hora,
esse enluarado acerta.

E nos desconcerta.
Forte, doce e ligeiro.

Feito você.

Cel Bentin

domingo, 23 de novembro de 2008

Vício

Atropelava-lhe em ruas desertas. Conspirava no sono e o emboscava de dia. Tornara-se insidiosamente premente, urgente, iminente.
No início - como todo o início - fora brinquedo fugaz, a última inconseqüência. Quando apercebera-se, já devia a Drummond, a Leminski, à Lispector, a Azevedo... Insolúvel, passara a assaltar léxicos e compêndios. Sucumbiria aos becos da obscura inspiração. Corrompera-se.
Alguém ainda o vira, por aí, exaurido e trôpego, catando verbos nas sarjetas. Ou nos degraus, mendigando - dizem - alguma rima:

Oh vaso, vaso sanitário!
Em ti planto meu último denário
Te condeno sacrossanto dromedário
A vazar pelo fio do escapulário

Jarbas Siebiger

Separação

Quanto mais a busco, ela de mim se oculta,
Se quanto mais a nego, ela retorna aos brados.
Assim cativo o que aos poucos me sepulta,
E assim trago-a constante em meus enfados.

Quanto mais a sorvo, mais lúcido me torno.
Se nela falo de amor, não é dela que vos digo.
E ela reside em quase tudo que adorno,
É ela quem verseja os anseios que lobrigo.

Como é possível desvencilhar-me desse fado
Se nela ora eu me levanto, ora me acabo,
E por horas ela transporta-me ao passado.

Como é possível, nessa tortuosa eucaristia,
Sair ileso sem que se doa nenhum lado?
Como é crível, Deus, separar-me da poesia?

Jairo Alt

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Gólgota

O escapulário que deixastes
de seus dedos em meus seios

não mais vejo.

Meu sexo
- pequeno escrínio
de teu sêmen -
foi fechado à chaves.

Não se abrirá nem com seu beijo.

Já sumiu do meu corpo
o sudário de tua pele
e teu cheiro,

pois foi longo meu calvário.

Trataste com escárnio
o milagre, a coisa sacra
que habitava os sotãos
cheios de arcas:

Eu, teu relicário.

Flávia Perez

Celeste em tarde nascer

sequestrei o sol do teu sorriso,
o escondi e dele me alimentei

quando voltei para sugar
silêncioso, mais do teu calor

encontrei tua alma
com um sorriso sem dentes.

um estreito riacho sem pedras
preciosas

seus olhos, azulescência pura,
eram agora o fundo de um lago

sem o soul da sereia que dançava
em ti.

sequestrei o sol da sua alma

agora escravo vago condenado
assassino da tua luz.

Wilson Roberto Nogueira

sábado, 4 de outubro de 2008

Tropa de Elite

Ingênuos que lêem Foucault
Heróis que empalam garotos
Toda ajuda é hipócrita
Tortura é a solução
Morte à alteridade
Aplausos histéricos à autoridade
Dos caminhos o mais curto,o mais fácil.
Fácil?
Desde que não atrapalhe o trânsito
e que não manche de sangue
os nossos sapatos, calçadas e filhos.
E desde que não perturbe nossas refeições.
Não nos embrulhe os estômagos
com a desagradável visão desses
pretos,
pobres,
sujos e maus
garotos estraçalhados.

Quem somos nós?

Pretensa elite que goza o mundo
e que cheia de medo
assina cheques, contratos e penas.
Elite que, cheia de dentes, berra:
Paz!
Justiça!
Honra!
Basta!
Basta de tiros em nossos quintais,
de mendigos em nossas calçadas,
de malabaristas em nossas esquinas.
Paz
no asfalto
na escola
no shopping.
Paz, no morro, engatilhada
Cano ainda quente
sujo de saliva e medo.

Pobreza pacificada,
silenciada até o próximo carnaval.

Salve a liberdade burguesa,
a invisibilidade do outro,
os gritos que não descem o morro!
Um viva aos novos heróis da pátria
com seus uniformes negros!
Carrascos com carteiras assinadas.
Durmamos em paz
e deixemos pra eles a honrada missão
da manutenção desse nosso gozo infindável...

Thorpo

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Você

eu que por pouco não sou transparente
apesar de minha solidez aflitiva
filho de todas as razias
eu que por mais um pouco seria invisível
eu que saio de casa para entrar no mundo
que enxergo, como henrika,
peixes nas poças de chuva

eu que sou um franciscano brutal
que alimento os pombos com parafusos
um relógio onde o tempo se estraga
que nunca superei as drogas
que nunca venci aquela paixão
que não posso ver uma mesa de cartas

eu que como papel entre
goles de tinta
que tenho a chave para as praças da cidade

eu que bebo com os cavalos as águas estigiais
que oxido de urina a lua
que construí escadas que vão dar no teto – como
madame winchester – que inventei janelas inacessíveis
construí mansardas sem alicerces
que levo na mudança meus fantasmas
e tenho uma mitologia de cães cegos

eu que sou esta florescência de miasmas
cuja alegria é uma careta, cujo sangue é de auroras
cujos ossos são de tijolos, cuja alma é de querosene
e o sonho
é apodrecer exalando música
eu que guardo uma gaivota na traquéia
que tenho cabelos no coração
e rins de diamante

que saio pelas ruas como uma charanga de calúnias
eu que vadio as estrelas
eu que desconfio dos poderes sobrenaturais da linguagem
e que ainda assim digo, grito desesperadamente as coisas
como se fosse arrastado por um desacampamento
de ciganos, como se uma guerra (ou uma saudade)
começasse por minha causa
como se um mágico tirasse moedas de minha
boca, como se as esferográficas guardassem a velha
herança das navalhas ruins,
como se houvesse fios de alta-tensão
entre nossos corpos

eu que vivo o precário vaudeville dos instantes
que aprendi a dar cambalhotas com os bobos
de shakespeare e os retardados
cujo bom-senso é o pavio da combustão
cujo reino é uma cratera, cuja coroa é o nariz
do palhaço, e o assassinato um ressuscitar-se

eu que sou, às quatro da manhã, a única janela acesa
eu que me intoxico de deus
que perdi a identidade, o ônibus, a graça,
que perdi os sisos, que perdi
o bilhete premiado, o fio de ariadne,
a lembrança do paraíso e do inferno

e que, ainda assim, volto para casa sangrando
como quem assobiasse

eu que faço parelhas para os afogados
que sempre quis ser o poeta de tróia
o poeta da boca-de-fumo, o poeta de porta-de-cadeia
o poeta dos obituários, o poeta oficial das alvoradas,
o poeta oficial da vila hauer
e que, ao fim, não sou poeta oficial nem de mim mesmo

eu que toco trombone dentro de uma piscina vazia
eu que tenho queimaduras de terceiro grau por dentro
que cato os rebotalhos da cultura materialista e reciclo
do jeito que dá e não dá, e junco de esperança todos
os impedimentos

eu, exilado do país infinito
eu que manipulo venenos, que enlouqueço sozinho
e subo a montanha
como um profeta que engoliu a língua

este ser fronteiriço
entre azul e precipício

que escovo os dentes com chuva e maçarico

eu, meu corpo
que tenho a espessura da vida
e o tamanho exato
de meu cadáver

eu
coluna de fumaça
espelho quando mente
ferragem retorcida
rosto em branco (como um edifício ou um anjo
transitório)
minha cara inconfundível

uma palavra

(r
e
l
â
m
p
a
g
o) que não acaba nunca


Rodrigo Madeira

Mulher Sentada

Sim, somos tristes
Além de ser sozinhos
Somos tristes
Como quem perde o ônibus
Como quem se senta num banco de praça
Como o atleta que tropeça no obstáculo
Triste! Triste!
Como só um cavalo
No meio de um prado imenso
Poderia estar
Como quem pede um pingado
Como quem acende um cigarro
Como quem finge que não ouviu nada
Mil vezes triste afinal
Como o mercado vinte e quatro horas
Onde se pode comprar lâminas
Ou carne congelada a qualquer hora
Triste como nem o diabo!
Como quem abre a geladeira de madrugada
E não distingue o som da Tv no quarto
Como o outdoor que promete a alegria
No produto cuja marca faliu
Como quem sai do cinema sozinho
Como a criança a quem perguntaram:
- Onde está sua mãe?

Otávio Luiz Kajevski Junior

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Sob as cortinas do sétimo andar

Eu falo com a minha planta. Ela é bobinha e apenas ri das maluquices que invento sobre tua pessoa. Um dia, quando passares chovendo embaixo da minha janela, apresentarei ambos assim: um ao outro em ato de reconhecimento. E gargalhadas verdes ecoarão pelos corredores do condomínio.
Josiane Ükma

Tanto Faz

um infinito de porquês eternos
poderíamos arrotar durante horas
argumentando o que não tem porquê

ou catando razões no paliteiro
para tirar dos dentes aquelas verdades incômodas

falamos na língua mais presa
e os pés medem o mesmo tamanho
somos quase iguais e quase somos nós

no limite do sucesso particular
e na beira do abismo psicológico
entre o que todo mundo é
e o que esse mesmo todo mundo condena ser

a loucura bate na porta
mendiga porquês

ignorar é um bom passo
mas daqui a pouco nem pão
nem mão, a desigualdade te toma o braço

e nessa brincadeira, quem é você?
e quem sou eu, nessa encruzilhada para ratos?

a resposta mais coerente me parece ser: tanto faz.

Cadu Oliveira

domingo, 28 de setembro de 2008

Fotografia veloz

Há uma corda pendendo entre as paredes
Há uma alma que nunca se descobre
Dois mantos recobrindo o oblíquo
Quantas chaves para abrir um sentimento?

Cresço mais perdido que o esplendor
Montanhas desfocadas, casinha decrépita
Madeiras negras sobre bases de fim
Rompidas no túmulo selvagem, melancolia.

O quadro que delineia o mistério das tropas
O inato, ríspido, hermético, originário ar
Passei tombado junto a uma implosão de cargas
Décadas e décadas para fingir, e tão mal.

Enumero minhas desgastadas manhãs
Prometo as coisas da volúpia
Não sumirei num breu de seguintes
Pois ainda não vi, pois ainda não sei.

Quase deformo o novelo da carne
Premindo com dedos fracos a grade da observação
Aspirando os acasos como se fossem cortinas filisteias
Regenerando a lânguida película da liberdade.

Levanto a cabeça, hasteio universos
A complexidade de sensações violadas
Inofensivo trasfagar de matérias
Superfícies resolutas, tons de silêncio.

Isolo os ligamentos do corpo
Urdindo as memórias do engano
Sumiram os carinhos de outras épocas
De outras épocas, restou-me o limite.

Vou só, um caminho que corta bosques
Entre os vapores de árvores negras
Sons que vibram distantes, inertes
E perspectivas que se lamentam.

Ivan Guardia.

Sobre ser só

Sobre ser sozinha, vou lhes dizer algo. Sempre soube.Sempre me coube, qual roupa de ficar em casa, larga, confortável e ligeiramente amassada.
Sei que vou morrer sozinha numa estrada. Sei que viverei sozinha até onde me couber. Todos que me fizeram companhia, foram coadjuvantes da minha comédia privada. Não sei ser personagem de ninguém. Não entro em nenhuma estória, não dou audiência, e saio de fininho de todas as festas enfadonhas, cheias de mais tantos personagens inúteis – até mesmo para suas próprias estórias.
Vou lhes contar uma estória nova: meu peixe se chama Eco. Me cerco de livros porque, se minha vida não é uma estória e eu não sou personagem de ninguém, preciso me alimentar de outras estórias, que roubo para mim. Não importa o sexo nem o nome, levando-se em conta que sequer importa o próprio ‘ser’. Sei cozinhar bem, e eventualmente abro um bom vinho. Não suporto pessoas que bebem vinho vagabundo. Esse é o tipo de pessoa que gosta de pagode alto e churrasco com os amigos aos domingos. Farsesco!
Mentira, não tenho peixe. E não cozinho muito bem, mas tenho mania de esticar o lençol do colchão até quase rasgá-lo. Não gosto de espelhos, e creio que ando com uma certa tendência a virar serial killer de pessoas que têm orkut.
Flávia Valente

Auto-retrato escrito e escarrado

No quadro arremesso excremento
E de dejeto pincelo meu esboço,
Com cores intensas do céu cinzento
Fazendo da face um pútrido poço.

A carranca é de acabrunhar
Feito o Minotauro de Picasso
E variegado das obras de Renoir,
Vou pitando-a no descompasso.

A pintura é tão enternecida e nobre,
Quanto os relógios de Salvador Dali.
Rabiscando-a da maneira Polock,
Atiro na tela, um aedo que jamais vivi.

Faço-me vertical no cubismo,
Nítido se o traço medrar-se abstrato.
Assim tem-se meu surrealismo
No quadrado paisagístico e inexato.

Na obra-prima terminada,
Alcanço o que nunca havia visto,
Então visto-me do que não desejo
Ao Pintar o auto-retrato proscrito
Da perspectiva que não me vejo.

Jairo alt

Kadisch

A natureza me deu saúde mas não me deu paz
(Justinus Kerner)

A possibilidade do suicídio torna a vida muitas vezes suportável
(Emil Cioran)
Kadisch
à Diego Pader Terry.

Iria começar uma oração
me lembrar um salmo,
iria rezar o pai-nosso
ou um kadisch
volver meus olhos
distar o jamais
aproximar meu passado.

Iria começar uma oração,
louvado seja!
lembrei que do oitavo andar
em Niterói
deus é pedra
a mesma pedra
que iria por em sua cova.

Louvado seja,
a mentira do sagrado,
que, eu profano nesta hora;
bendito seja o Nome
meu Nome,
teu Nome (leitor)
e o Nome de quem nestas linhas
eu pranteio.

Louvado seja,
quase me esqueci
do intérmino da face
subterrâneo vivo
onde começa o meu olhar

Louvada seja
a Carne
- ossos lascados -
deus das alturas
vai
em queda livre
onde jaz
a carniça do vento.

Bendito seja o inferno,
maldita bendição,
porque malditos são
todos os alados
porque asas pesam,
pesam
a juventude nossa de cada sonho.

Bendito, louvado e maldito
seja o céu...
rasuro tua lápide,
arremessando as letras
seladas
com o cuspe
do amanhã;
santo é
o nome do Horror;
inscrevo-lhe meu salmo
e rasuro tua lápide.

Maldito, louvado, bendito
seja o Nome da Carne
Ossos que espatifam.

Perdoe-me Pedra
venha tu
ao meu reino
que seja feita
em terra
a terra
nos extratos do jamais
e rezo aqui
o cimo daquela hora
no declive desta oração.
Amém.

Tullio Stefano

sábado, 27 de setembro de 2008


Nem Joana, nem inocência D´arc

Nenhum grito pode ser manso:
eis porque me arrepio!

sem rios de pranto
amanheço inconsciente
levada à fogueira
por um homem "santo",
mas ainda respiro

cravejada de esmeraldas
verde, sua raiva
amargando sua lira,
desposando fel,
0fez-me demônio

rosas vermelhas
pétalas áscuas
amantes sublunares
sentidos abastados
relações inventadas

dobro os joelhos
e oro em teu olhar inocente:
livrai de ti, os que teus pés prendem
e antes de qualquer morte
quebrem-se teus espelhos.

Ivone F. Santos

Interstício

Minha alma dança
Enevoada e cega
Sob o jugo de mil pecados
Rutilante e trêmula bacante
que desaba em espirais sinuosas.
Ninguém vê o malabarismo das minhas lágrimas
Sigo subjugada num equilíbrio frágil
Pendurada nos delicados fios
Tecidos por mãos insanas e frias
Corto delicadas lascas de mim
Em inúteis remissões
Fragmentos do que fui
culpas que crescem indolentes
Nas frestas dos teus silêncios
Reforçam a filigrana prateada
Que brota dos teus olhos vidrados
Beijos sonolentos me deslizam;
lençóis bordados de sonho,
Enquanto amamento lobos mutantes
Filhos das facas que se escondem no interstício
Das palavras não ditas
Desfaço-me a cada dia pra te recompor
Junto os cacos dos teus olhos
Reconstruo os teus sonhos
Enquanto abraço abismos.

(Rosa Cardoso)