sábado, 27 de setembro de 2008

Interstício

Minha alma dança
Enevoada e cega
Sob o jugo de mil pecados
Rutilante e trêmula bacante
que desaba em espirais sinuosas.
Ninguém vê o malabarismo das minhas lágrimas
Sigo subjugada num equilíbrio frágil
Pendurada nos delicados fios
Tecidos por mãos insanas e frias
Corto delicadas lascas de mim
Em inúteis remissões
Fragmentos do que fui
culpas que crescem indolentes
Nas frestas dos teus silêncios
Reforçam a filigrana prateada
Que brota dos teus olhos vidrados
Beijos sonolentos me deslizam;
lençóis bordados de sonho,
Enquanto amamento lobos mutantes
Filhos das facas que se escondem no interstício
Das palavras não ditas
Desfaço-me a cada dia pra te recompor
Junto os cacos dos teus olhos
Reconstruo os teus sonhos
Enquanto abraço abismos.

(Rosa Cardoso)

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