Sobre ser sozinha, vou lhes dizer algo. Sempre soube.Sempre me coube, qual roupa de ficar em casa, larga, confortável e ligeiramente amassada.
Sei que vou morrer sozinha numa estrada. Sei que viverei sozinha até onde me couber. Todos que me fizeram companhia, foram coadjuvantes da minha comédia privada. Não sei ser personagem de ninguém. Não entro em nenhuma estória, não dou audiência, e saio de fininho de todas as festas enfadonhas, cheias de mais tantos personagens inúteis – até mesmo para suas próprias estórias.
Vou lhes contar uma estória nova: meu peixe se chama Eco. Me cerco de livros porque, se minha vida não é uma estória e eu não sou personagem de ninguém, preciso me alimentar de outras estórias, que roubo para mim. Não importa o sexo nem o nome, levando-se em conta que sequer importa o próprio ‘ser’. Sei cozinhar bem, e eventualmente abro um bom vinho. Não suporto pessoas que bebem vinho vagabundo. Esse é o tipo de pessoa que gosta de pagode alto e churrasco com os amigos aos domingos. Farsesco!
Mentira, não tenho peixe. E não cozinho muito bem, mas tenho mania de esticar o lençol do colchão até quase rasgá-lo. Não gosto de espelhos, e creio que ando com uma certa tendência a virar serial killer de pessoas que têm orkut.
Flávia Valente
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